sábado, 18 de fevereiro de 2012














Outeiro fundeiro

Mais uma vez a caminho do outeiro fundeiro, do sol quente, do cheiro a terra nas mãos grandes e vermelhas, do abraço sincero... das janelas misteriosas da luz funda e serena, do céu aceso e colossal, do olhar meigo da eddy, da teimosia encabrestada da lucy e das papoilas deliciosamente secas, penduradas de soslaio ao canto sua boca, do cheiro do café carregado de momentos íntimos e de palavras nossas, mais uma vez de volta as paredes alentejanas caiadas de história e gente, das oliveiras novas cantando o azeite dourado em fio e das figueiras maduras inebriando de mel as abelhas rainhas...mais uma vez faço a rota das noras passo por elas, olhando-as sorrindo para elas...já sinto a alvorada corada em pontas dançando envergonhada alegria nona de Beethoven. Nos meus pés mergulha fresca a água do poço verde, transparente e cheio de vida, estou perto sempre perto... já sinto o perfume a fumo da lareira vermelha e o barro incandescente do forno, neste momento, neste preciso momento estamos sentadas no beiral da cozinha carcomido pela vida, ensaiando palavras em forma de conversas e partilhando sem compromissos desejos, frustrações, duvidas e decisões... no fundo do copo desfrutamos um bom vinho e ao som das cordas vocais dançam os nossos olhos, dançam as nossas mãos numa ciranda de sonhos... da tua janela vejo o meu reflexo, vejo a casa da velha jaquina, vejo o por do sol cobrindo de magia a imensidão do tempo, da tua janela consigo ver o caminho...